segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

as águas de janeiro


A expectativa é mesmo um mal.

Era tanta gente investindo o verão nas praias de Florianópolis, que o trânsito e o passeio pelas vias da cidade virou uma problemática além do típico para essa época. Falta mesmo infraestutura que dê conta do fluxo de turistas e locais.

Então veio chuva, como há tempos não se via na temporada. Chuva que levou embora a expectativa de meio mundo de gente, e, de repente, não se podia mais explorar a magia da Ilha. Mas quem mais perdeu foram os manézinhos (como são chamados os nativos de Floripa):

Pessoas ficaram ilhadas em regiões alagadas;
morros desmoronaram e fecharam passagens;
asfaltos cederam e avenidas foram arruinadas.

E eu também perdi:

Também fiquei ilhado . largado, sem contato;
também desmoronei . vias fechadas, retraído;
também cedi e ruí . perdi forças, perdi o chão.

Mas quem me derrubou não foi a água da chuva;
não foram as ondas do mar; não foram águas de janeiro ou de março.
Foram águas de Marcos.

E enquanto eu sofria as rajadas severas, tentando compreender o que me acometia, eu escrevi. Escrevi a cada dia, narrando o espectro de sentimentos, todos os matizes de chumbo e cinza e ardósia. Com o registro das dores e das expectativas falidas, pude alcançar conclusões que hoje me são a salvação e aos poucos me erguem de volta à margem.

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