terça-feira, 31 de dezembro de 2013

I don't want to stay here, but I don't want to get up either

Sabe como as pessoas dizem "você precisa sair mais, ver gente" etc? Eu não sei até onde isso é efetivo, mas resolvi tentar no fim de semana. Peguei um ônibus e fui andar na praia. E, diante do meu desconforto, me lembro de sentar numa pedra na orla e ali ficar, sentado, pensando. E o meu pensamento, com o tempo, evoluiu para "eu não quero ficar aqui, tampouco quero levantar". E é o que bem resume o que tenho passado. Não quero ficar, mas não quero sair.

Engraçado como as coisas ficaram turvas e eu, naturalmente, fui lidando com elas como pude, até perceber que um ano inteiro se passou e eu ainda estou tratando do incompreensível, mas não sei mais como prosseguir. Também não dá mais pra ficar esperando encontrar respostas nos filmes. Não vai rolar.

Eu bebi vinho. Todo mundo já começou a beber, e eu não me importo de simpatizar com a minha taça. Sei que esta carta pode parecer embaçada, e pode ser que seja o vinho, mas pode ser também a bagunça dentro da minha cabeça. Benin, eu amo a ideia de você. Sim, vocé é possivelmente a minha melhor e mais promissora ideia. E eu espero poder contar com essa ideia por mais tempo.

Neste momento, eu queria poder ser o suficiente pra nós, eu queria me bastar com o que lhe escrevo. Mas eu acho que é hora de concordar que eu preciso de ajuda.

Allie Brosh, Hyperbole and a half

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

"mas eu pareço não aprender"

Ao longo do ano, eu fui confrontado com o que eu diria ser uma das razões-mestras do meu desequilíbrio emocional. Um fator que há muito eu já conhecia a meu respeito, mas só agora percebi o teor tóxico do seu efeito: eu não sei largar. Das coisas, dos lugares, das pessoas, das ideias, das lembranças. Sempre sofri desse mal, porém, nunca como neste ano. Embora eu entenda a importância do ato no processo de crescimento, eu não consigo deixar pra lá. Essa angústia perdura porque eu continuo pensando e persisto querendo o que não quero mais querer. A minha mente fica presa em uma ideia. E mente presa não faz bem.

Um exemplo é que eu tenho medo da hora de voltar pra casa. De deixar tudo isso pra trás, a vida decente que eu levo e os poucos amigos que fiz, além de algumas pessoas que deixarei com laços inacabados, o que doi especialmente mais - saber que nunca haverá um desfecho e a ferida seguirá aberta. E, estando de volta, temo ficar preso em Brasília, pra evitar a despedida de lá e, ainda, tendo em mente que qualquer lugar a que eu vá em seguida será um para se abandonar um dia.

Até da vida eu não sei largar. Lutando contra tantos pensamentos turvos ao longo deste que foi um ano obscuro em si, eu não desisti deste mundo porque não poderia largar a mão. Eu não consigo largar.

Eu preciso de algo em que me segurar. Eu preciso aprender a soltar.

The Cardigans - Live and learn

domingo, 29 de dezembro de 2013

L.O.S.T. - Lea Michele


Nesses tempos em que a música pop me desaponta a cada álbum que se lança, Cannonball foi uma boa surpresa pros ouvidos. A melodia acertada e os vocais da Lea Michele acentuam esta que é uma das canções mais bonitas compostas pela Sia. A música, oferecida quando a atriz lidava com a morte do namorado, trata da escuridão emocional de que, vez ou outra, nos tornamos reféns por motivos variados, e da vontade de se projetar além dessa clausura. Nesse sentido, Cannonball fala diretamente comigo e expressa o estado da minha angústia, a constante vontade de cair no chão e gritar e a verdade recorrente de chorar. Eu preciso voar alto rumo a um novo começo e sair dessa tumba.


sábado, 28 de dezembro de 2013

"Se eu fosse a gente..."



Em 2001, eu conheci e passei a fazer parte de um grupo de amigos que seriam daqueles pra vida toda. A gente passava a maior parte do tempo junto, rindo de bobagens e fazendo planos incabíveis pro futuro, enquanto os últimos anos de adolescência permitiam o luxo. Eu me lembro de repetir para mim mesmo o quanto era sortudo de tê-los como amigos. De fato, eu temia que um dia Carla, Fernanda e André se dessem conta de que eu nem era de tanto valor pro grupo (mas eu era).

Ah, mas é imbatível o golpe da mudança ao curso de doze anos... O conselho que ouvi, ainda criança, de uma tia, de que adiasse virar adulto por quanto fosse possível, tomara sentido muito claro. Chega a hora em que a amizade torna-se empacada pelos compromissos distintos e inerentes à idade, hoje madura demais para nos permitir encontros naquela salinha secreta, onde ríamos durante o recreio e prolongávamos as risadas, matando aula; ou qualquer outro evento que nos tornava personagens de um filme de Sessão da Tarde. E, com a evolução dos anos, construímos nossa dinâmica própria, digna de série de tevê - e daquelas bem roteirizadas.

Mas a mudança é mesmo imbatível. Hoje, sinto que somos como o elenco de uma série que há muito se encerrou. Ou seja, cada ator segue com projetos diferentes e a amizade sofre a falta de tempo; de vez em quando, eles se esbarram, e o carinho permanece, porém a ausência pesa. O que resta de nós é um punhado sem-fim de recordações e uma saudade aguda de um grupo que compartilhava momentos. Dói muito reconhecer que não somos os mesmos, e mais ainda que esses, como outros amigos queridos de outrora, hoje eu não conheço mais.

E isso explica o que tem sido um dos maiores impasses na minha fase atual. Qualquer habilidade que eu já tenha tido de cultivar amizades hoje se encontra tão despedaçada dentro de mim, que eu não sei mais fazer amigos. Não só me sinto desinteressante, como acredito não ter o que oferecer a alguém. Eu desaprendi a ser um bom amigo e a me dividir com outros, e tenho medo de nunca mais saber. Essa realidade é possivelmente um dos meus maiores temores nessa vida, porque o valor que em geral se é empregado a família, eu dedico majoritariamente aos meus amigos. Sem eles, me sobra pouco mais que as roupas do corpo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vim, vi, perdi

Antes de me mudar pra cá, em 2011, minha tia me encheu de ânimo, dizendo que esta viagem serviria para eu me encontrar. Eu concordei. Por 10 anos, houvera sonhado com a chance de uma vida diferente, começar tudo novo em outro lugar, conhecer pessoas novas, me tornar alguém melhor. Um sonho que parecia tão atraente àquela idade, e embora distante, eu sempre soube que o dia chegaria.

Minha tia estava certa em profetizar algo tão positivo; seu palpite é que estava errado. Aqui eu me perdi. Perdi o que deixei para trás, perdi o que tinha e também o que achei que teria. Todos os planos de começar do zero e ser um eu melhor não passaram de sonhos rascunhados, alheios à prática. Eu queria expandir a minha persona, no entanto definhei como uma velha alma, perdida e sozinha. Eu passo os dias tentando ser aquele que projetei, mas não consigo. Parte de mim se frusta com a incapacidade ao vagar diante do nada que me restou, embora a outra parte insista em continuar buscando mudança, porém sem resultado que honre o esforço. Por vezes, eu realmente tento; por outras, me canso e deixo de lado. Mas nem posso sentir raiva de mim, porque sei que eu tento, mas dou com a cara na parede, e no fim sou eu o único ainda ao meu lado a dar apoio. Eu sou tudo que me sobrou.

E não me arrependo de ter vindo, tampouco acho que corri atrás em hora errada. Eu fiz o que tinha que fazer. Mas, nesses dois anos, conheci a pessoa que eu sou, vendo o sonho daquele que não me tornei escorrer embora como as lágrimas no rosto. E eu amo quem eu sou, porque sei que tentei, mas não reconheço mais a pessoa por trás da carcaça.

Eu não tenho mais perspectiva de espaço - lugar já tanto faz, não significa mais nada. Resta o tempo, que eu torço que ainda tenha valor.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Pitombas fora de serviço

Mas é verdade, o cinema dita a forma como a gente vive. O filme finge ser uma representação da vida real, quando na verdade é uma projeção padronizada na qual a gente baseia o agir e o pensar; é um fluxo inverso. A nossa trama real é espelhada nas histórias que assistimos, e quem atua somos nós, do lado de cá da tela.

A gente segue a vida criando expectativas que já foram previamente criadas e distribuídas à massa. Ao menos falo por mim, porque sei que elas regulam o meu modus operandi. E hoje, quando mais uma vez me vejo diante da possível realidade (outrora ditada pela voz da sapiência) de que talvez eu não seja destinado a amar e a ser amado, penso que me falta uma referência em que me apóie. Esse filme não saiu em cartaz; é uma história que não se conta, porque ninguém quer ouvir.

Sabe, eu tentei. Eu me arrisquei, me expus, me despi e tentei. Mas, assim como uma vez eu tentei "entregar minha vida a Deus", me propondo a mudar, e foi um tremendo fracasso, hoje eu concluo que o amor, tal como Deus, dá certo para alguns. Ou não dá certo para alguns, depende do ângulo.

Se há algo a aprender com isso tudo, é que eu preciso reajustar minhas expectativas. Criar as minhas próprias, coerentes com a minha verdade, que por sua vez inspirem uma história ou outra, seja filme ou não.

Pushing Daisies #203

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Não era amor, era pitombas


Tudo que eu sei sobre o amor, eu aprendi assistindo. Não foi ouvindo histórias dos meus avós. Não foi vivendo e aprendendo. Foi mesmo na tela, vendo como amor brota, amadurece, perpassa conflitos e chega a um fim eventual. Eu sempre assisti ao amor, com olhos de cobiça.

Aos doze anos eu me apaixonei pelo meu professor e, desde então, amei tantos outros. Até perceber, no auge dos meus vinte e seis, que não. Não era amor.

O amor é um sonho de mão dupla, disse Björk, lá em 1997. Eu é que demorei a escutar. Todos esses anos, não era amor; era uma força que seguia em uma direção, sem encontrar a outra ponta e sem fechar o círculo. Ta aí, o amor é um círculo que começa aqui e junta lá e quando se fecha, não há mais fim ou começo. Sem fechar o círculo, só resta uma linha com duas pontas, que, na falta de utilidade, a gente usa pra pular corda, sozinho. Eu acho que é isso.

Por isso que eu sou magro. De pular corda.

I really don't know love, at all...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Cenográfico

É meio louco pensar que acabei encontrando meu caminho na indústria do cinema e em como tudo se desenvolveu tão rápido nos últimos dois anos. E que, embora por um lado tenha me encontrado, por todos os outros me perdi como nunca antes. Suspeito que tenha sido o inerente desejo de viver, sentir, falar e fazer tal como se leem as palavras em um roteiro. Mas, diante do fato de que vida não tem script, talvez trabalhar na área fosse a coisa mais próxima - se não posso viver em um filme, ao menos quero fazer filme pra viver.

E hoje nada mais sei. Me sinto falso como um cenário vazio, sem propósito como um personagem figurante, contando uma história flácida como num filme ruim.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

...mas eu vi num filme, eu li num livro,

que derramar lágrimas faz de nós pessoas mais fortes.

Só que eu acho que isso é coisa de retórica. Comigo não parece funcionar - o que, contudo, não cessa o meu esforço. Esforço, ou mesmo um movimento involuntário - não sou eu quem as chora, elas é que se expelem. Minhas lágrimas são mais fortes do que eu e não vêem barreira que as impeça - não mais. E então fica assim; eu vou continuar chorando enquanto meus pulmões tiverem fôlego para soluçar.

E um dia o molhar de minhas faces há de me renovar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Aquela lágrima é minha, aquele choro sou eu...

Estou num estado que eu choro vendo cachorros no YouTube,
eu choro vendo videos de artistas de rua no YouTube,
videos de bullying, de crianças de espírito elevado,
choro assistindo drama, choro assistindo comédia.

Eu podia até parar de assistir tantas coisas,
mas o choro é que não pára, tanto faz.

Eu penso no aqui, penso no agora,
no amanhã eu penso dez vezes,
no ontem, cem vezes mais,
no tenho, no tinha, teria,
no quero e no queria,
eu penso demais.

Eu gasto mente,
perco gente, 
e choro.
Só.
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